sexta-feira, 24 de abril de 2009

The Archangel.

"Para nascer de novo" cantava Gibreel Farishta despencando do céu, "... é preciso morrer primeiro".

Por que você está aqui?Você está ouvindo?Você pode ouvir o que eu estou dizendo?Eu não estou aqui, eu não estou ouvindo.Eu estou na minha cabeça e estou girando...


As luzes acedem.As luzes apagam.Quando as coisas não estão certas.Eu deitarei como um cão esgotado.Lambendo suas feridas sobre a sombra.

Quando eu me sentir vivo tentarei imaginar uma vida sem cuidados, um mundo cênico onde todos tem um por do sol deslumbrante...


тнє αяcнαηgєł.


Acendi outro cigarro. Continuei com os olhos fixos ao monitor do notebook. Coloquei o cigarro no cinzeiro, em seguida juntei minhas mãos e estalei quase todos os dedos. - Ao trabalho! – enviei estes mesmos dez dedos ao teclado, eles correram rápidos, ansiosos, desesperados, mas nada aconteceu.


Levantei-me e fui até o rádio. – música. Talvez isso ajude. – o cd do Poets of the fall encaixou na bandeja, eu escolhi a faixa e logo o som de Sleep podia ser ouvido em cada canto do apartamento.

Vários cigarros depois, uma garrafa de vodka, um baseado, e ainda assim nenhuma palavra. Olhei-me no espelho... Fitei minha própria face durante um tempo; não pensei em absolutamente nada, mas tive vontade de me xingar pelo que já sabia estar prestes a fazer... – que saber de uma coisa, foda-se.


Abri a maldita gaveta e tirei seu maldito conteúdo. Fiz tudo rápido, com aquela rapidez de quem já se habituou e para quem aquilo é algo tão comum quanto respirar. O pó, a colher, o fogo, em seguida o líquido na seringa, o silicone, a veia e a viagem... O ritual.

As palavras vieram... Dezenas delas... Logo, viraram centenas, milhares, espalhadas pelo quarto, embaixo do sofá velho e corroído, em cima da mesa! Eu só tive de catá-las, pegá-las por sílabas, juntá-las e enquadrá-las. Escrevi num ritmo frenético, esqueci-me do tempo e criei anjos, demônios, fadas, cavalheiros...


O telefone celular. O maldito celular tocando em algum lugar. Afastei o notebook, olhei para um lado, para outro, levantei-me e segui o som da trilha sonora de guerras nas estrelas – to indo, to indo. – trôpego, quase caio, a sala parece girar, eu só vejo palavras na minha frente... Encontro o celular tocando no banheiro, dentro do bolso da calça que usei ontem. Uma rápida olhada no identificador de chamadas...


_ Ah, merda, merda, merda!


Atendi aquela porra de uma vez.


_ Alõ.


_ O que aconteceu, Gibrie? Achei que tínhamos combinado que você me entregaria hoje a tarde todos os contos... Santo Deus! Você ganha um bom dinheiro e só têm que escrever alguns contos simples, estórias simples do cotidiano, não é pedir demais tendo em vista que é pago por isso. Vou lhe dar um conselho...


_ Um conselho, Randall? Você me da vários conselhos por dia, falando assim fica parecendo algo inédito. – retruquei.


_ Gibreel... – ai vem o conselho. _ Seu problema é falta de visão e imaginação demais... Veja bem... – ele fez uma pausa, talvez estivesse procurando a folha onde guarda aquele discurso já tão repetido. _ Você é um exímio escritor, mas escreve coisas que ninguém que ler. Não adianta, garoto, o que vende mesmo são coisas com impacto, histórias reais, ou ficção para adolescentes. Não adianta querer escrever sobre anjos, demônios e vampiros do jeito sério e dedicado que você faz. Os leitores querem o drama simples, a novela e não nada que force muito as suas cabeças. Ai está o conselho, Gibrie, faça o que quiser com ele, desculpe-me, mas vou ter que demitir você.


Fiquei em silêncio por um segundo.


_ Ok. – respondi e desliguei o celular, jogando-o na privada.

Que saber de uma coisa? Quero mesmo é que tudo se foda!

Voltando a sala, completamente fora de controle, algo muito comum em mim quando estou em situações de tensão, ou as que eu julgo serem tensas, agarrei o notebook e com força o joguei contra a parede. Em seguida sentei no chão mesmo. Estiquei o braço e peguei a seringa novamente...


O mesmo ritual, a mesma maldição...

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